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Quarta onda do feminismo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Dia Internacional da Mulher, Londres, 2017

A expressão quarta onda do feminismo refere-se ao ressurgimento do interesse no feminismo iniciado por volta de 2012 e associado ao uso das redes sociais.[1] Segundo a pesquisadora Prudence Chamberlain, o foco da quarta onda é a busca pela justiça para as mulheres e a oposição ao assédio sexual e à violência contra a mulher. Sua essência, ela escreve, é “a incredulidade quanto ao fato de certas atitudes continuarem existindo”.[2]

A quarta onda do feminismo é “definida pela tecnologia”, de acordo com Kira Cochrane, e é caracterizada pelo uso do Facebook, Twitter, Instagram, YouTube e Tumblr e de blogs como o Feministing para contestar a misoginia e outros exemplos de desigualdade de gênero.[1][3][4][5]

Os temas tidos/que estão sobre a atenção das feministas da quarta onda incluem o assédio nas vias públicas e no ambiente de trabalho, a violência sexual nos campos universitários e a cultura do estupro. Escândalos envolvendo o assédio, o abuso e o assassinato de mulheres e meninas estimularam o movimento. Dentre eles incluem-se o caso de estupro coletivo em Délhi em 2012, as acusações contra Bill Cosby e Jimmy Savile, o massacre de Isla Vista em 2014, o julgamento de Jian Ghomeshi em 2016, as acusações contra Harvey Weinstein em 2017 e o subsequente efeito Weinstein.[6]

Exemplos de campanhas ligadas à quarta onda do feminismo incluem os projetos Everyday Sexism e No More Page 3, no Reino Unido, o Stop Bild Sexism, na Alemanha, a Mattress Performance (Carry That Weight) que aconteceu no campus da Universidade Columbia, o vídeo viral 10 Hours Walking in NYC as a Woman, a hashtag #YesAllWomen, a campanha Free the Nipple, as edições de 2017 e 2018 da Marcha das Mulheres e o movimento #MeToo. Em dezembro de 2017, a revista Time deu a diversas ativistas proeminentes do movimento #MeToo o título de Pessoa do Ano, chamando-as de “quebradoras do silêncio”.[7][8]

A jornalista Pythia Peay defendeu a existência de uma quarta onda já em 2005, que enfocava a justiça social e os direitos civis,[9] e em 2011 a ativista da terceira onda Jennifer Baumgardner definiu o ano de 2008 como o início da quarta onda.[10] O Twitter, a rede social mais popular entre as pessoas com idades entre 18 e 29 anos, foi criado em 2006,[11] tornando o feminismo mais acessível e dando início ao chamado “feminismo hashtag”.[12] Em 2013 Kate Cochrane afirmou que muitas das lideranças da quarta onda eram adolescentes ou tinham 20 e poucos anos.[1]

Por volta de 2013 já parecia óbvio que uma nova onda de protestos feministas estava acontecendo. Quando a senadora americana pelo estado do Texas Wendy Davis obstruiu os trabalhos legislativos por 13 horas para impedir a aprovação de um projeto de lei anti-aborto, diversas mulheres demonstraram seu apoio se reunindo no entorno do Capitólio estadual do Texas, e aquelas que não puderam estar fisicamente presentes usaram a hashtag #StandWithWendy. De modo similar, as mulheres protestaram contra as perguntas sexistas endereçadas às mulheres do meio artístico através da hashtag #askhermore.[13]

Cochrane cita como temas principais enfocados pela quarta onda o assédio sexual (incluindo o assédio nas vias públicas), a discriminação no ambiente do trabalho, a gordofobia, as representações machistas na mídia, a misoginia online, a violência nos transportes públicos, a interseccionalidade e o uso das redes sociais para fins de comunicação e de petições online para fins de organização.[1] [14][15]

Dentre os livros associados à nova onda estão Os Homens Explicam Tudo para Mim (2014), de Rebecca Solnit (que deu origem ao termo mansplaining); The Vagenda (2014), de Rhiannon Lucy Cosslett e Holly Baxter (baseado na revista online feminista The Vagenda, lançada em 2012); Sex Object: A Memoir (2016), de Jessica Valenti; e Everyday Sexism (2016), de Laura Bates (baseado no projeto Everyday Sexism, também de autoria de Bates).[16] O livro de Cosslett e Baxter tem como objetivo questionar os estereótipos de feminilidade promovidos pela mídia feminina tradicional.[17] Bates, escritora feminista britânica, criou o projeto Everyday Sexism em 16 de abril de 2012, na forma de um fórum online onde mulheres podiam compartilhar suas experiências com o assédio cotidiano.[18]

Uma crítica frequente à quarta onda do feminismo é quanto a sua dependência da tecnologia. Conforme argumentou Ragna Rök Jóns na Revista Bluestockings em 2013, “o principal problema com que esta ‘Quarta Onda’ precisará lidar é o acesso e a propriedade desproporcionais de dispositivos digitais”. A quarta onda carrega consigo a “discriminação de classe e o capacitismo inerentes” que surgem quando as vozes mais importantes são as daqueles que podem usar e pagar pela tecnologia.[19]

Também se argumenta que quando o ativismo se dá principalmente através do Twitter as pessoas podem acabar não sentindo necessidade de fazer mais nada para ajudar. Em um artigo para o site Newuniversity.org, Alex Guardado argumenta que depois de fazer sua parte as pessoas “seguem normalmente o curso de seu dia, favoritando ou compartilhando outros posts”. É possível considerar-se um ativista sem participar de um único protesto ou levar sua mensagem para além do espaço compartilhado no Twitter.[20]

Em 2014, Jennifer Simpkins argumentou no Huffington Post que a quarta onda do feminismo criou uma atmosfera hostil, semelhante àquela mostrada no filme Meninas Malvadas, na qual as mulheres estão mais propensas a atacar umas às outras. “A verdade é que nunca fui diminuída ou atacada por um homem porque eu acreditava na causa feminista”, ela afirmou, “mas as mulheres parecem sempre prontas para golpear a pinhata esfarrapada que são os meus gostos e opiniões pessoais.”[21]

  1. a b c d Cochrane, Kira (10 de dezembro de 2013). «The Fourth Wave of Feminism: Meet the Rebel Women». The Guardian 
  2. Chamberlain 2017, p. 115.
  3. Solomon, Deborah (13 de novembro de 2009). «The Blogger and Author on the Life of Women Online». The New York Times. Consultado em 25 de fevereiro de 2018 
  4. Zerbisias, Antonia (16 de setembro de 2015). «Feminism's Fourth Wave is the Shitlist». NOW Toronto. Consultado em 25 de fevereiro de 2018 
  5. Cochrane 2013.
  6. Sobre os casos de Cosby e Ghomeshi, o #MeToo, e a quarta onda, ver Matheson, Kelsey (17 de outubro 2017). "You Said #MeToo. Now What Are We Going To Do About It?", The Huffington Post. Sobre o caso de Savile, ver Chamberlain 2017, pp. 114–115 Sobre a No More Page 3, ver Thorpe, Vanessa (27 de julho 2013). "What now for Britain's new-wave feminists – after page 3 and £10 notes?", The Guardian. Sobre o massacre de Isla Vista, ver Bennett, Jessica (10 de setembro de 2014). «Behold the Power of #Hashtag Feminism». Time 
  7. Zacharek, Stephanie; Dockterman Eliana; and Sweetland Edwards, Haley (6 December 2017). "The Silence Breakers", Time magazine.
  8. Redden, Molly, and agencies (6 December 2017). "#MeToo movement named Time magazine’s Person of the Year", The Guardian.
  9. Peay, Pythia (2005). «Feminism's Fourth Wave». Utne Reader (128). Topeka, Kansas: Ogden Publications. pp. 59–60. Consultado em 25 de fevereiro de 2018 
  10. Baumgardner 2011, p. 250.
  11. Brodzky, Brandon (18 de novembro de 2014). «Social Media User Statistics & Age Demographics for 2014». LinkedIn Pulse. Consultado em 16 de março de 2016 
  12. Bennett 2014.
  13. Chittal, Nisha (26 de março de 2015). «How Social Media is Changing the Feminist Movement». MSNBC 
  14. Abrahams, Jessica (14 de agosto de 2017). «Everything you wanted to know about fourth wave feminism—but were afraid to ask». Prospect 
  15. Martin, Courtney E.; Valenti, Vanessa (15 de abril de 2013). «#FemFuture: Online Revolution» (PDF). Barnard Centre for Research on Women 
  16. Bates 2014.
  17. «Letter from the Editor». The Vagenda. 19 de janeiro de 2012 
  18. Aitkenhead, Decca (25 de janeiro de 2014). «Laura Bates Interview: 'Two Years Ago, I Didn't Know What Feminism Meant'». The Guardian 
  19. Jóns, Ragna Rök (19 de agosto de 2013). «Is the '4th Wave' of Feminism Digital?». Bluestockings Magazine 
  20. Guardado, Alex (3 de março de 2015). «Hashtag Activism: The Benefits and Limitations of #Activism». New University. University of California, Irvine 
  21. Simpkins, Jennifer (20 de janeiro de 2014). «'You Can't Sit with Us!' – How Fourth-Wave Feminism Became 'Mean Girls'». The Huffington Post 

Ligações externas

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